sábado, 6 de outubro de 2007

CARTA ABERTA

Senhor Presidente da Assembleia da Junta de Ftreguesia de Oiã
Senhor Presidente da Junta de Freguesia de Oiã
(Para conhecimento: Dignissimo Presidente da Câmara)
Na qualidade de membro da Assembleia da Junta de Freguesia de Oiã, Joaquim Alberto Grangeia Seabra, vem, junto de V. Exas, expor o seguinte:

Verifiquei, e certamente os presentes também, após a última Assembleia da Junta, que o papel da Junta de Freguesia e, consequentemente da sua Assembleia, está reduzido à expressão mínima de ter de cumprir calendário de reuniões.
Foi “cumesinha” a Ordem de Trabalhos, repetitiva, inconsequente e minimalista a “Informação da actividade da Junta”, e, enfim, deplorável a ausência de vários membros da Assembleia.
Claro que ao estar lá, tenho sido conivente com este arrastar de mediocridade, com este assumir do “princípio de de Peter” – atingir o máximo da nossa incompetência. E nada nos faz prever qualquer alteração da situação a curto prazo.
E nem algumas discussões, repetitivas e enfadonhas, sobre facturas e aquisições, - matéria que só poderá ser resolvida com uma auditoria – transformaram o desenrolar das Assembleias.
É notória a necessidade de repensar a organização e dinamização da Junta de Freguesia de Oiã, e, provavelmente, de outras no nosso Concelho. E a nível de País talvez essa situação surja com maior acuidade do que pensamos.
E mais quando vemos, a curto prazo, a passagem da gestão do pessoal das escolas para as Autarquias e os apelos do Senhor Presidente da República a que estas sejam mais colaborantes e interventivas na dinamização da vida escolar.
As Juntas de Freguesia serão certamente mandatadas pela Câmara para a realização de uma determinada gama de tarefas junto das Escolas, por uma questão de proximidade e porque não vemos a Câmara a avocar a gestão total – a ver vamos – do pessoal das escolas.
De acordo com a legislação, e como os colaboradores da Junta gostam de afirmar, as suas competências são muito limitadas. Mas a legislação também afirma, por exemplo :
“l) Apoiar ou comparticipar, pelos meios adequados, no apoio a actividades de interesse da freguesia, de natureza social, cultural, educativa, desportiva, recreativa ou outra;”
“n) Prestar a outras entidades públicas toda a colaboração que lhe for solicitada, designadamente em matéria de estatística, desenvolvimento, educação, saúde, acção social, cultura e, em geral, em tudo quanto respeite ao bem-estar das populações;”
E é caso para perguntar se há efectivamente da parte do executivo da Junta uma preocupação clara com o desenvolvimento sócio educacional e cultural da população (por mais amplo que o termo possa ser). Será demais perguntar, e mais uma vez, porque já o fiz em outras alturas, se as Juntas são só um mero órgão gestor da limpesa das estradas, caminhos e fontes, e dos cemitérios, um serviço administrativo para cobrança de licenças, taxas, passagem de certidões, etc.?
Procuro sempre respeitar quem trabalha e sei bem que quem está na Junta está lá por dedicação, gratuitamente (excepto o presidente, os funcionários e os “deputados” aquando das Assembleias), e que tem de abdicar dos seus tempos livres para efectuar muitas das tarefas. Mas creio que há necessidade absoluta de revermos a foma como encaramos as actividades da Junta, como definimos e assumimos as suas competências, como preparamos as Assembleias.
Propomos um debate alargado sobre a Freguesia de Oiã, nas suas estruturas sócio – económicas, culturais e educacionais, na sua organização administrativa como a Autarquia que gere a maior Freguesia do Concelho, as características das suas populações e a sua participação cívica e política no movimento associativo e nos órgãos autárquicos. Um debate alargado que redinamize a vida social e política da Freguesia, que lhe dê uma nova dinâmica, que a retire deste marasmo avassalador a que parece que estamos votados.
É que vêm aí grandes mudanças e uma casa nova!
(A adjectivação do texto foi intencional)

sábado, 7 de julho de 2007

A angústia do tempo que passa

I
Do passado, do presente e do futuro. As incertezas do corpo que se ama, do carinho que se deseja, do amor que se esbanja. Uma vida de família que se constrói, que se consolida ou se desvincula, que se amplia, se engrandece ou se vai desvanecendo.
A tua vida terá sido algo de diferente de muitas outras pessoas.
Muitos de teus anseios terão sido desenvolvidos através de uma infância, ainda que aparentemente cheia, plena de evasivas, de insatisfação, de invejas inconscientes e inconsequentes. Muitos dos teus sentimentos mais naturais terão estiolado antes de se manifestarem. Muitos de teus vazios terão sido preenchidos com as vivências dos outros, com o amor vivido por outros, que não sentido e vivido por ti. Talvez não ames verdadeiramente ninguém. E, no entanto, acreditas no teu pretenso amor ... mas pelo amor dos outros. Talvez mesmo tivesses desenvolvido uma espécie de anticorpos sentimentais face aos sentimentos que os que te foram rodeando ao longo da vida te dedicaram. E incluso o desejo do amor físico e as primeiras experiências tenham sido uma violentação procurada deliberadamente. Não com o intuito da procura e da entrega ao amor, mas antes com o intuito de o usares porque tinhas direito a ele.
Habituaste-te a servir-te do mundo e das pessoas. E na verdade nunca traçaste verdadeiros objectivos para a tua vida, em todos os sentidos.
Uma mãe autoritária a quem não terás reconhecido o direito de substituir o pai perdido, aliado a uma vida que cedo quiseste auto-suficiente, terão determinado uma conduta autónoma, afirmada por um carácter extrovertido que não representava, no entanto, nem espontaneidade nem confiança absoluta em quem te quisesse amar.
Agrestes foram sendo teus sentimentos. Sem entrega total. E a tua vida, aquilo que afinal consideras a tua verdadeira vida, parece ter ficado no passado de uma juventude em que, por isso mesmo, não implicava decisões, tomadas de posição, responsabilidade, perante ti mesma e perante os teus familiares e amigos. Tudo se passou afinal duma forma simples, imediata. E chegada a uma idade avançada, ao olhares para trás, tens a sensação de que afinal nunca viveste em pleno. Foste sempre uma infeliz porque ninguém se preocupou verdadeiramente contigo. Mas será que te entregaste o suficiente a alguém, de coração aberto, para que esse alguém te possa ter assumido e ser assumido por ti? Será que alguma vez amaste de verdade alguém ou alguma coisa? Será que alguma vez definiste objectivos concretos para a tua própria vida? .
Para ti, amiga, a vida não deve ter sido fácil. Acredito. E agora é certamente tarde para voltar atrás ou para corrigir o que quer que seja.
Sempre te quis compreender. Talvez sempre te tivesse querido ajudar. Mas estou em crer que, talvez inconscientemente, é verdade, tu nunca tivesses admitido a ajuda de ninguém. Quando tu mais precisavas não tiveste lá ninguém ... Nem a tua família mais próxima. E depois, mais tarde, foste couraçando teus sentimentos. Incluso o desejo de prazer ter-se-á confundido com algo, senão proibido, pelo menos muito longínquo e pouco acessível. Por isso ainda agora a tua entrega, a tua amizade, o teu amor tem de ser procurado e proporcionado ou promovido pelos que te rodeiam. Chegas a dar-te duma forma real, mas para isso tem de ser outrem a construir o que deveria ser a tua entrega. Tem que elaborar e fazer desabrochar o teu amor ou a tua amizade. São os outros que têm de mendigar o teu carinho. Ser amigo ou amar alguém é para ti uma condescendência. Dito por outras palavras: Amar não é para ti querer o bem-estar do outro, mas sim o teu bem-estar. A amizade não é um sentimento teu para com alguém mas um sentimento de alguém para contigo. Claro que apesar de estar a comentar o teu comportamento não quer dizer que ele seja teu monopólio.. Afinal quantos de nós não amam os outros só enquanto eles podem retribuir esse amor. A amizade resulta interesseira e o amor, levado ao seu extremo, um erro com consequências nefastas. Mas deixa que te diga que gosto de ti, apesar de tudo. Como justificaria o ter vivido tantos anos a teu lado, Sofridos, muito sofridos podes crer, mas com bastantes momentos de alegria. O quadro psicológico. que procurei elaborar permitiu-me compreender a frigidez, a tua reduzida motivação para o prazer. Ou antes. Só muito esporadicamente tomavas a iniciativa dos jogos do amor, e fazia-lo quase a medo. Mas num casal não está determinado de forma alguma quem deve tomar a iniciativa. Talvez fosse fruto de uma educação, ou da interpretação de um processo educacional que afinal não existiu duma forma natural. Habituaram-te a repudiar as mulheres daquela rua que ali estavam á disposição dos soldados. Não chegaste sequer a ter tempo de te aperceberes, ainda que ás escondidas, dos momentos de amor de teus pais. E depois teus colegas permitiam-se, e mais do que se permitiam vangloriavam-se de comportamentos nessa área que não correspondiam á realidade.
O que terás aprendido sobre teu corpo e sobre sexo terá sido através do que ouvias, e das colecções de fotografias e revistas pornográficas que, apesar do cuidado de teus colegas em não te mostrarem por te acharem pouco crescida para aqueles assuntos, te achaste no direito de apreciar. O sexo terá assim tido para ti uma conotação meio duvidosa no que toca a sentimentos, afectos e carinhos. Terá estado mais provavelmente ligado a determinados actos apressados no vão de uma escada ou no elevador. Determinadas acções ou posições despidas de entrega de corpo e alma, de abandono ás carícias, ao prazer assumido e mutuamente consentido. Tua própria sensibilidade terá sido coarctada nessa área por falta de um aprendizado de contactos, pele com pele, apalpar, beijar, sentir no momento próprio, ir aprendendo a vibrar, a ser afecto a ser corpo sensível com vontade de prazer, de carinho, de orgasmo. Depois, quando te encontrei, já a culpa será minha em não ter conseguido proporcionar-te um desenvolvimento mais eficaz desses teus sentimentos inacabados, incompletos. Em também ter tido receio de melindrar essa tua vergonha, esse teu insatisfeito corpo, essa falha de maturação sensorial ou inacabado desenvolvimento da sensualidade. E hoje talvez me apetecesse chorar contigo quando não te compreendem e se negam a aceitar as consequências dessa realidade.
Podemos sentir-nos realizados. Uma família. Uma educação honesta dos filhos. O seu respeito a sua amizade e compreensão. Mas tu nunca te sentiste realizada. Sei-o por ti.. Nunca te entregaste totalmente a nada nem a ninguém. Nunca quiseste definir para ti mesma o que pretendias da vida. E quando não se têm objectivos nada do que se alcance tem verdadeiro sentido. Estaremos sempre insatisfeitos. Nunca nos sentiremos realizados, é verdade. Essa é certamente a condição do próprio ser humano!... Mas nós estamos lá para vivermos essa busca. Ainda hoje sonhas uma juventude de que na altura te julgavas eterna dona, de uma vida independente, inconsequente e irresponsável, onde tudo parecia controlado ou consideravas tudo controlar. Só que a vida pregou-te uma partida. Ou não pregou e tu é que quiseste dispor dela, da vida, conforme achavas ser teu direito...

II
Deparei contigo, casualmente, naquele Encontro. O teu cabelo comprido, a barba, o ar longínquo. Não sei bem porquê começámos por nos telefonar. Longas conversas que se tornaram motivo de pequenas piadas lá em casa. Pedias-me para te resolver alguns problemas como comprar-te este ou aquele objecto pessoal que te entregava quando nos encontrávamos no teu apartamento. Depois foste almoçar lá a casa, "apresentei-te" á família num ambiente algo tenso mas logo te aceitaram. Fomos juntos a várias festas. Dançámos, rebolámo-nos, á noite, na areia da praia deserta, à luz da lua. Amámo-nos e casámo-nos.
E á tarde uma festa simples. Fomos viver para o teu apartamento, dois quartos e uma sala, com um simples colchão na alcatifa a servir de cama. E começámos a viver certinho. Quem diria que a poucos meses de te conhecer, já estava casada. Sentia-me feliz. Empregos suficientes e minimamente seguros. Mas sempre quis muito mais. Sempre achei que tinha direito a muito mais.
Não sei. Nem sempre era fácil entregar-me ao amor. E gostava de fazer amor contigo. Mas tinhas qualquer coisa de misterioso, de inexplicável. Uma forma de estares na vida que não me parecia totalmente transparente. Admirava-te. Os teus conhecimentos, o teu autodomínio, a tua presença sempre tão respeitada pelos outros, quase receosos de que lhes pudesses desmascarar a. incompetência, as limitações culturais e intelectuais. Dominavas a palavra e eu admirava-te. Mas talvez por isso mesmo, não queria reconhecer essa tua superioridade e fui-me couraçando, mesmo ferindo-te - hoje reconheço-o - para me defender.
Fui procurando avassalar-te com a minha presença. Queria-te perto de mim pois tinha receio de te perder. E não era difícil com tantas amizades à tua volta, com tanta mulher que também te admirava e provavelmente também te desejava.
Nunca cheguei a saber se depois de casado te entregaste a alguma delas. E ficava fula quando me dizias que se acontecesse fazeres amor com certas mulheres tuas amigas não me estarias a ser infiel. Porque algumas eram especiais e a "dádiva dos corpos" ás vezes é o prolongamento natural de um momento muito forte de "simbiose afectiva". Ainda hoje creio que nunca o tenhas feito, ou quero acreditar que assim tenha sido.
(Extracto adaptado pelo autor do seu livro "Abisag, @ sunamita”)
Yves Junior

sábado, 30 de junho de 2007

Recolhas de textos e reflexões para os estudantes de Filosofia

Algumas “informações” sobre Filosofia para o iniciante ao estudo da dita
(para ler e reler como exercício de pensamento em liberdade)

Filosofia é uma palavra derivada do grego - φιλοσοφία - que significa "amor pela sabedoria" (filos / sophos). Pode-se então traduzir o termo "filósofo" como "amigo da sabedoria" (ver amizade no conceito aristotélico). O filósofo é, portanto, concebido como aquele que busca o conhecimento puro e não se deixa corromper por sistemas pré-estabelecidos.

Estudo que se caracteriza pela intenção de ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade, quer pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras, o Ser, quer pela definição do instrumento capaz de apreender a realidade, o pensamento tornando-se o homem tema inevitável de consideração

Especulação sobre a verdade e a natureza da verdade e do universo. Não é necessariamente religiosa ou metafísica, mas quase todas as opções de fé (inclusive as não-teístas) costumam interessar-se bastante em argumentações filosóficas.

Sistema de conhecimentos naturais, metodicamente adquiridos e ordenados que tende a explicar todas as coisas por seus primeiros princípios e suas razões fundamentais.

Filosofia (do grego Φιλοσοφία: philia - amor, amizade + sophia - sabedoria) modernamente é uma disciplina, ou uma área de estudos, que envolve a investigação, análise, discussão, formação e reflexão de idéias (ou visões de mundo) em uma situação geral, abstracta ou fundamental. Originou-se da inquietação gerada pela curiosidade humana em compreender e questionar os valores e as interpretações comumente aceitas sobre a sua própria realidade. As interpretações comumente aceitas pelo homem constituem inicialmente o embasamento de todo o conhecimento. Estas interpretações foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração. Ocorreram inicialmente através da observação dos fenómenos naturais e sofreram influência das relações humanas estabelecidas até a formação da sociedade, isto em conformidade com os padrões de comportamentos éticos ou morais tidos como aceitáveis em determinada época por uma determinado grupo ou determinada relação humana. A partir da Filosofia surge a Ciência, pois o Homem reorganiza as inquietações que assolam o campo das ideias e utiliza-se de experiências para interagir com a sua própria realidade. Assim a partir da inquietação, o homem através de instrumentos e procedimentos equaciona o campo das hipóteses e exercita a razão. São organizados os padrões de pensamentos que formulam as diversas teorias agregadas ao conhecimento humano. Contudo o conhecimento científico por sua própria natureza torna-se susceptível às descobertas de novas ferramentas ou instrumentos que aprimoraram o campo da sua observação e manipulação, o que em última análise, implica tanto na ampliação, quanto no questionamento de tais conhecimentos. Neste contexto a filosofia surge como "a mãe de todas as ciências". Didacticamente, a Filosofia divide-se em:
Lógica: trata da preservação da verdade e dos modos de se evitar a inferência e raciocínio inválidos.
Metafísica ou ontologia: trata da realidade, do ser e do nada.
Epistemologia ou teoria do conhecimento: trata da crença, da justificação e do conhecimento.
Ética: trata do certo e do errado, do bem e do mal.
Filosofia da Arte ou Estética: trata do belo.

A palavra "filosofia" ganha, em dimensões específicas de tempo e espaço, concepções novas e diferentes tornando difícil sua exacta definição. São muitas as discussões sobre sua definição e seu objecto específico. [1] Definir a filosofia é realizar uma tarefa metafilosófica. Em outras palavras, é fazer uma filosofia da filosofia. Aqui se vê que a melhor maneira de se abordar inicialmente a filosofia talvez não seja definindo-a, pois tal definição já exige alguma filosofia.
Esse problema deve ser visto em toda sua seriedade. Não há como se definir sem que se tenha alguma compreensão dada de definição, do mesmo modo que não há como responder adequadamente a uma pergunta, se não partimos de uma compreensão dada de pergunta e resposta. (Sobre a filosofia do perguntar ver Martin Heidegger, Ser e tempo, §2.)
Historicamente, a filosofia é conhecida por ser difícil de definir com precisão, não conseguindo a maioria (se não todas) das definições cobrir tudo aquilo a que se chama filosofia.
Há outros modos de se chegar a uma concepção da filosofia, mesmo sem uma definição.
À falta de uma definição "definitiva", as introduções à filosofia geralmente apostam em apresentar uma lista de discussões e problemas filosóficos, e uma lista de questões que não são filosóficas.
Algumas questões filosóficas incluem, por exemplo, "O que é o conhecimento?" "Será que o homem pode ter livre arbítrio?", "Para que serve a ciência?" ou, até mesmo, "O que é a filosofia?". A forma de responder a estas questões não é, por seu lado, uma forma científica, política ou religiosa, nem muito menos se trata de uma investigação sobre o que a maioria das pessoas pensa, ou do senso comum. Envolve, antes, o exame dos conceitos relevantes, e das suas relações com outros conceitos ou teorias.
O método da listagem de discussões e problemas filosóficos tem seus limites. Por si só, ele não permite que se veja o que unifica os debates e as discussões. É por isso, talvez, que os filósofos não costumam apelar a esse método. Ao invés disso apresentam imagens da filosofia.
A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E, ao contrário da matemática, não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.
A preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?» Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «O que é um número?» Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como é que as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisa?» Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: «O que torna uma acção certa ou errada?»
Não poderíamos viver sem tomarmos como garantidas as ideias de tempo, número, conhecimento, linguagem, certo e errado, a maior parte do tempo, mas em filosofia investigamos essas mesmas coisas. O objectivo é levar o conhecimento do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio que não é fácil. Quanto mais básicas são as ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para nos ajudarem. Não há muitas coisas que possamos assumir como verdadeiras ou tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma actividade de certa forma vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo.
Definições Os professores e manuais portugueses de filosofia que se vêem confrontados com a pergunta "O que é a filosofia?" sentem-se geralmente impotentes para dar uma resposta que se compreenda -- acabando muitas vezes por se limitarem a confundir a questão com jogos de palavras, citações autoritárias e textos obscuros. Não é nada disso o que me proponho fazer. Para poder responder à pergunta "O que é a filosofia?" terei de falar primeiro de definições. Tenho de falar de definições porque quando as pessoas perguntam "O que é a filosofia?" estão em geral à espera de um tipo particular de definição. A definição que as pessoas têm em mente é uma definição explícita. Uma definição explícita é algo como isto: "Uma pessoa solteira é uma pessoa que não é casada". As definições explícitas são, na verdade, raras. Ninguém sabe definir explicitamente a física -- ou, pelo menos, é muito difícil fazê-lo. Dizer "A física é a ciência que estuda os fenómenos físicos" não adianta grande coisa; nós também podemos dizer que "A filosofia é a prática intelectual que estuda os problemas filosóficos". A primeira definição não é muito satisfatória porque se não soubermos o que é a física é pouco provável que saibamos o que são realmente fenómenos físicos e como se distinguem tais fenómenos dos fenómenos não físicos. A segunda também não é muito satisfatória porque é pouco provável que quem não sabe o que é a filosofia saiba o que são realmente os problemas filosóficos e como se distinguem tais problemas dos problemas não filosóficos. Do facto de sermos incapazes de apresentar uma definição explícita de uma dada noção não se segue que não saibamos do que estamos a falar. Afinal, sabemos do que estamos a falar quando falamos de física, mas poucos de nós são realmente capazes de definir a física. E o mesmo acontece com imensas noções. Por exemplo, eu não sei definir o que é a cor azul; mas sei reconhecer a cor azul e diferenciá-la das outras cores -- apesar de haver casos em que hesito, claro; quando estou perante um azul-esverdeado, não será antes um verde-azulado? Mas os casos claros são suficientes para eu poder afirmar que sei do que estou a falar quando digo que o céu é azul. Mas como posso eu saber o que é a cor azul ou a física se não sei definir explicitamente nenhuma dessas noções? Bom, posso saber o que é a cor azul ou a física apesar de não saber definir explicitamente nenhuma dessas noções porque as definições, em geral, não são tudo o que há para nos ajudar a compreender as coisas, e porque, em particular, há outro tipo de definições além das explícitas. Por exemplo, eu aprendi a distinguir os objectos azuis dos objectos de outras cores sem que ninguém me tenha fornecido uma definição explícita da cor azul. Os psicólogos cognitivos poderão estudar em pormenor como se dá o processo da aprendizagem das cores, mas não é isso que interessa agora. O que interessa é que, seja qual for o processo, esse processo não envolveu uma definição explícita. Provavelmente, envolveu apenas aquilo a que em filosofia e lógica se chama "definição implícita": se uma pessoa que não sabe o que é a cor azul mo perguntar, eu posso apontar para vários objectos que exibam um azul bem vivo e dizer que esses objectos são azuis. Eu nunca disse explicitamente o que era o azul. Mas a outra pessoa compreende o que eu quero dizer. É isto a definição implícita. A definição implícita ocorre quando alguém me pergunta o que é X e eu, em vez de dizer "X é Y" aponto apenas para vários XX, ou exibo vários contextos diferentes em que o termo "X" é usado. Ilustremos este último tipo de definição implícita: muitas vezes, ao lermos um romance, deparamo-nos com certos termos que desconhecemos. Todavia, pelo contexto, percebemos do que se trata: pode ser, por exemplo, um termo raro que refere certos estados de espírito. A este tipo de definição implícita chama-se "não ostensiva" ou "contextual". Ao outro tipo de definição implícita, a que apresenta objectos que são X para explicar o que o termo "X" quer dizer, chama-se "ostensiva". Eis uma curiosidade: há por vezes a tendência para pensar que só as definições explícitas são as "verdadeiras" definições. Mas não há qualquer razão para pensar isso. Na verdade, podemos desenvolver métodos extremamente rigorosos, em lógica, de definições implícitas contextuais. Eu posso apresentar um sistema de lógica em que nunca defino explicitamente a condicional nem a negação; mas a totalidade do sistema constitui uma definição implícita extremamente rigorosa da condicional e da negação -- a condicional e a negação são aqueles operadores que têm as propriedades que o meu sistema lógico exibe. Caracterizações Voltemos à física e à filosofia. Uma definição implícita muito simples de física é dizer que a física é o que os físicos fazem e o que está escrito nos livros de física. E podemos dizer o mesmo relativamente à filosofia. E, na verdade, esta é a melhor definição que podemos ter de física ou de filosofia: a prova do pudim, como se diz por vezes, consiste em comê-lo. A melhor maneira de saber o que é a física é estudar física; a melhor maneira de saber o que é a filosofia é estudar filosofia. Mas isto é injusto. Como pode alguém decidir se está interessado em física ou em filosofia sem antes saber qualquer coisa sobre isso? Terá uma pessoa de estudar física ou filosofia durante 2 anos para depois saber se realmente estava interessado? Não poderemos dizer nada à partida que ajude as pessoas? Teremos de as mandar ler manuais de física ou de filosofia para poderem perceber do que tratam tais coisas? Claro que não. Isto seria ridículo. Apesar de uma definição implícita de filosofia ou de física ser a melhor maneira de ficar a saber realmente o que é a física ou a filosofia, podemos no entanto destacar algumas características mais importantes destas disciplinas e explicar, de forma não exaustiva, em que consiste o estudo da física e da filosofia. Chama-se a isto "caracterização". Nós fazemos isto muitas vezes, quando não somos capazes de definir algo, nem explícita nem implicitamente. Por exemplo, eu não sei definir explicitamente o estilo de uma grande escritora como Marguerite Yourcenar; e se estiver a falar com um amigo posso não ter um livro desta autora à mão para lhe mostrar alguns parágrafos e páginas memoráveis. Mas posso caracterizar o estilo dela. Posso destacar algumas das características mais importantes do seu estilo. Claro que isto não será uma definição porque muitos outros escritores poderão ter algumas destas características ou mesmo todas. Mas estas características de algum modo conseguirão dar uma ideia do que é o estilo de Marguerite Yourcenar, sem que o meu amigo tenha de ler a obra completa da autora e sem que eu tenha de lhe ler alguns dos seus melhores trechos. E é isso que vou fazer para responder à nossa pergunta. O que é a filosofia? A minha resposta irá consistir em apresentar algumas das características mais importantes da filosofia. Mas vou fazer mais: darei vários exemplos de problemas filosóficos. Assim, com uma caracterização e recorrendo a exemplos, espero dar uma boa ideia do que é a filosofia. Acresce a isso que estarei ao mesmo tempo a fornecer ao leitor alguns instrumentos filosóficos básicos -- como as noções de "definição" e "caracterização" que já apresentei -- que lhe permitirão dar os primeiros passos na filosofia. Teorias e afirmações Das várias actividades humanas, como a religião, a arte, a ciência e a filosofia, as duas últimas dedicam-se a resolver problemas. A física ocupa-se dos problemas físicos, a matemática dos problemas matemáticos e a filosofia dos problemas filosóficos. Qualquer destas disciplinas apresenta teorias, que pretendem resolver os problemas de que se ocupam. A física apresenta teorias físicas, a matemática teorias matemáticas e a filosofia teorias filosóficas. Chama-se por vezes "teses" às teorias filosóficas; podemos também chamar-lhes "doutrinas". Não importa, desde que saibamos do que estamos a falar. Mas do que estamos nós a falar quando falamos de teorias? O que é uma teoria? Bom, uma vez mais, talvez não seja possível oferecer uma definição explícita de "teoria". Mas é pelo menos possível apresentar um conjunto de características salientes. Aí estão elas: em primeiro lugar, as teorias não podem confundir-se com as coisas nem com os fenómenos. A teoria da relatividade de Einstein não é um fenómeno físico; a teoria de Einstein procura explicar vários fenómenos físicos. Uma teoria é constituída por afirmações. Mas o que quer dizer "afirmação"? Uma afirmação é algo como isto: "Nenhum objecto pode viajar mais depressa do que a luz." Promessas, perguntas e exclamações não são afirmações: "Prometo dizer toda a verdade", "Quem foi Aristóteles?" e "Fecha a porta!" não são afirmações. Uma afirmação é o que uma frase declarativa com sentido nos diz. Uma frase como "O João é boa pessoa" diz-nos que o João é boa pessoa. Claro que há frases declarativas que não têm sentido: "As dores de cabeça são muito salgadas" é uma frase declarativa, mas não parece realmente afirmar coisa alguma. Em filosofia, dizemos que uma frase destas não tem sentido ou é absurda -- é uma frase que não tem qualquer valor de verdade. Não se trata apenas de nós não sabermos qual é o valor de verdade que ela tem -- não se trata apenas de não sabermos se a frase é verdadeira ou falsa. É mais forte do que isso. A frase não tem valor de verdade algum. É muito diferente da frase "Há água em Marte" que é uma frase verdadeira ou falsa, apesar de ninguém saber se é verdadeira ou falsa. Uma das características de qualquer actividade -- intelectual ou não -- é o facto de dar um significado especial e muito preciso a certas palavras ou expressões. Isso acontece na ciência, nas artes, na religião e em várias actividades profissionais. Isto não quer dizer que estejamos a reformar a linguagem, ou a usar a linguagem de uma forma falaciosa e propositadamente confusa -- apesar de isso por vezes acontecer realmente na má filosofia. Isto acontece na má filosofia porque as pessoas que não têm a devida preparação filosófica têm tendência para começar a usar as palavras da filosofia sem perceberem bem o que estão a dizer; e começam a falar do Ser e do Acto e da Potência e da Metafísica, etc., etc., apesar de terem apenas uma ideia pálida e muitas vezes errada do que essas palavras querem dizer. Para estas pessoas, a filosofia não passa de um jogo que se faz com palavras que mal se conhecem. Isto, claro, não é senão uma pálida imagem do que é a filosofia. Em suma: o uso técnico de certos termos em filosofia é um recurso comum a outras actividades e que nos ajuda a fazer melhor o nosso trabalho -- mas implica da nossa parte que sejamos capazes de dominar o sentido especial em que usamos esses termos, se não quisermos que a nossa actividade seja uma caricatura da verdadeira filosofia. Por exemplo, em física, o termo "massa" tem um significado bastante preciso e que não coincide com o significado que, no dia-a-dia, damos a esta palavra. Em filosofia, os termos "absurdo" e "sentido" são usados de um modo ligeiramente diferente do habitual. No dia-a-dia, se eu afirmar uma contradição, como "Marco Aurélio foi um filósofo e não foi um filósofo", a nossa primeira reacção é pensar que estamos a querer dizer que, de um certo ponto de vista e relativamente a certos aspectos, Marco Aurélio foi um filósofo, mas que de outros pontos de vista e relativamente a outros aspectos, Marco Aurélio não foi um filósofo. Mas se insistirmos na nossa afirmação, dizendo que não é isso que queremos dizer, mas antes que ele foi e não foi um filósofo, independentemente dos pontos de vista e dos aspectos que tivermos em mente, a nossa reacção natural é exclamar "Isso é absurdo!" ou "Isso não faz sentido!". Usamos estas mesmas expressões para qualificar afirmações claramente falsas. Se eu disser que a água do mar é óptima para matar a sede, a reacção é a mesma: "Isso é absurdo!" ou "Isso não faz sentido". Do ponto de vista do uso técnico que se faz em filosofia do termo "sentido" ou "absurdo", uma afirmação só não tem sentido (isto é, só é absurda) quando não é susceptível de ter valor de verdade. Assim, a afirmação "Marco Aurélio foi um filósofo e não foi um filósofo" não é uma afirmação absurda: é uma afirmação com sentido. É uma afirmação com sentido visto que é falsa -- na verdade, é necessariamente falsa. Dado que é falsa, tem um valor de verdade; dado que tem um valor de verdade, tem sentido. O mesmo acontece com a afirmação "A água do mar é óptima para matar a sede". Do ponto de vista popular ou comum, dizemos que uma afirmação é absurda quando é, do ponto de vista conversacional, inútil. Ora, as frases necessariamente falsas e as frases obviamente falsas são, geralmente, inúteis do ponto de vista conversacional -- isto é, não constituem uma contribuição construtiva para uma conversa. Daí que tenhamos tendência para pensar que essas frases não têm sentido. As frases que nos interessam são as que exprimem afirmações susceptíveis de serem verdadeiras ou falsas, ainda que não saibamos se são verdadeiras ou falsas -- muitas vezes, o objectivo é mesmo tentar descobrir se são verdadeiras ou falsas. Por exemplo, não se sabe se Deus existe ou não -- esta é uma questão filosófica tradicional. Mas só faz sentido discutir esta questão se acharmos que a frase "Deus existe" exprime realmente uma afirmação; se não exprime uma afirmação nada há para discutir, porque a frase não pode ser verdadeira nem falsa. Mas não será que as frases exprimem muitas outras coisas, além do que exprimem literalmente? Claro que sim. A frase "Deus existe" pode exprimir um anseio ou esperança, ou pelo contrário uma posição irónica perante o mal que grassa no mundo. As frases podem exprimir muitas coisas. Mas na discussão filosófica interessa-nos também o seu sentido literal, e não apenas os seus sentidos laterais. Fugir do sentido literal das frases e pretender que só os sentidos laterais são importantes é uma visão redutora da filosofia que contraria a tradição filosófica e que em nada contribui para a discussão clara, criativa e crítica dos problemas da filosofia. O facto de nós precisarmos de saber o que exprimem literalmente as frases da filosofia obriga-nos a evitar tanto quanto possível as ambiguidades e as vaguezas. Uma frase é ambígua quando exprime mais de uma afirmação. Se eu disser "A filosofia consiste na sua história" posso estar querer afirmar duas coisas completamente diferentes: ou que o trabalho filosófico consiste apenas em fazer a história do que se fez; ou que o trabalho filosófico que se faz fica inscrito na história. Para discutirmos ideias -- em filosofia, como em tudo o resto -- é muito importante a precisão na linguagem: temos de evitar tanto quanto possível as ambiguidades. Por vezes, o discurso "filosófico" de algumas pessoas cultiva a ambiguidade, por acharem que é mais "rico". Mas isto é uma ilusão. A verdadeira riqueza discursiva e filosófica resulta do valor das ideias defendidas e não do facto de não se saber bem o que se está a defender porque se defendem várias coisas, muitas vezes opostas, ao mesmo tempo. Pelo contrário, este modo de proceder é empobrecedor porque é redutor -- reduz a filosofia a um jogo de palavras. A filosofia não é um jogo de palavras; a filosofia não é um jogo. A uma pessoa sem preparação filosófica, a filosofia pode parecer um jogo, mas isso é só porque não se tem preparação filosófica; se eu ler um texto de medicina do século XVI, porque nada sei de medicina, também me vai parecer que se trata apenas de um jogo de palavras inconsequente. Mas isso é uma ilusão. Além da ambiguidade, temos também de evitar a vagueza. Uma frase é vaga quando não se sabe que afirmação está a exprimir. Isso acontece realmente muitas vezes em filosofia, e isso pode dar uma vez mais às pessoas a ideia de que a vagueza é uma propriedade a cultivar em filosofia. Uma vez mais, isso resulta de não se ter uma preparação filosófica adequada e, uma vez mais, isso é uma perspectiva redutora da filosofia. Se queremos pensar, reflectir e ser críticos, temos de saber sobre o que estamos exactamente a pensar. Mas se a frase que temos perante nós for de tal modo vaga que não conseguimos saber o que quer essa frase dizer exactamente, então a discussão não pode prosseguir. Em filosofia há uma exigência de clareza. A ambiguidade e a vagueza são incompatíveis com a clareza. Logo, devemos evitar a ambiguidade e a vagueza. Em filosofia há também uma exigência de honestidade. Mas a ambiguidade e a vagueza não são compatíveis com a honestidade. Se eu nunca me comprometer realmente com nenhuma afirmação porque o que digo é sempre vago e ambíguo, a minha posição será sempre irrefutável. Mas a honestidade exige que apresentemos as nossas ideias de forma a que as outras pessoas as possam avaliar criticamente. Logo, devemos ser claros. Muito bem. Já compreendemos melhor o que quer dizer "afirmação". Uma afirmação é o que é expresso por uma frase declarativa que tenha sentido ou valor de verdade (independentemente de nós sabermos se a frase é verdadeira ou falsa). Fala-se por vezes de proposições em vez de afirmações. Há uma diferença subtil entre as duas coisas, havendo até filósofos que apostam forte contra a ideia e que existem proposições. Mas essa diferença não nos interessa agora. Basta-nos perceber que duas frases diferentes podem exprimir a mesma afirmação ou proposição: as frases "Portugal é um país pobre" e "Portugal is a poor country" exprimem a mesma afirmação ou proposição. E uma mesma frase pode exprimir diferentes afirmações: a frase "Hoje choveu em Lisboa" pode exprimir a afirmação ou proposição de que no dia 30 de Junho de 2000 choveu em Lisboa, se for proferida nesse dia, ou pode exprimir a afirmação ou proposição de que no dia 3 de Dezembro de 1999 choveu em Lisboa, se for proferida nesse dia.
A minha opinião pessoal é que a filosofia é o conjunto de considerações de índole especulativa que se fazem acerca de assuntos sobre os quais ainda não é possível ter um conhecimento exacto. Bertrand Russel, A Minha Concepção do Mundo
A filosofia, ao visar a totalidade do real, comporta necessariamente dois caracteres que constituem a sua originalidade própria: o primeiro é que ela não poderia dissociar as questões umas das outras, uma vez que o seu esforço específico consiste em atingir o todo; o segundo é que, tratando-se duma coordenação conjunta de actividades humanas, cada posição filosófica determina valorações e uma adesão, o que exclui a possibilidade de um acordo geral dos espíritos na medida em que os valores em questão permanecem irredutíveis. J. Piaget, A Situação das Ciências do Homem no Sistema das Ciências.
Termo de origem grega resultante da junção de duas palavras: "philos" e "sophia". A primeira significa amigo, o que deseja ou procura. A segunda significa sabedoria, saber, conhecimento. Neste sentido, a filosofia diz respeito à actividade própria daqueles que amando ou desejando o saber, se envolvem na descoberta do conhecimento da realidade. Na Grécia dava-se o nome de filosofia aos homens que, movidos por interesses intelectuais desinteressados, procuravam compreender a realidade existente. O saber que íam adquirindo, assim como a totalidade dos conhecimentos obtidos nas suas investigações recebia igualmente a designação de filosofia.
Porque em filosofia argumentamos uns com os outros sobre questões filosóficas é natural pensar que a filosofia é um processo "adversarial" [antagónico] como dois advogados (o de acusação e o de defesa) que argumentam um contra o outro num tribunal. Contudo, há duas razões pelas quais esta comparação dos filósofos com os advogados não é boa. Em primeiro lugar, o objectivo de cada advogado é ganhar a causa do seu cliente — quer o seu cliente esteja inocente quer não. Pelo contrário, o objectivo de dois filósofos que se encontrem a argumentar um com o outro é chegar à verdade — seja ela qual for e seja quem for que tenha razão. Como um estudante afirmou, eloquentemente, o objectivo de cada advogado é ganhar a causa, quer ele tenha a verdade quer não, ao passo que o objectivo de cada filósofo é chegar à verdade, quer ele ganhe o argumento quer não. (Sendo os filósofos seres humanos, nem sempre são assim tão imparciais, mas o ideal é este.)
Em segundo lugar, num julgamento há uma autoridade (o juiz ou o júri) que os advogados tentam persuadir, e que em última análise determina se o acusado está ou não inocente. Em filosofia, pelo contrário, não há qualquer juiz ou júri com autoridade para tornar uma posição incorrecta e a outra correcta. Só existimos nós. Claro que alguns de nós sabem mais do que outros sobre questões filosóficas, e o mais sábio é ficar atento e aprender com quem sabe mais do que nós, mas quando chega o momento de tomar decisões relativamente a um tema filosófico somos todos igualmente responsáveis pelas nossas crenças e devemos por isso tomar, cada um de nós, as suas próprias decisões.
A filosofia é diferente de muitas outras disciplinas das Letras porque para estudar filosofia é necessário fazer filosofia. Para ser um historiador de arte, não é necessário pintar; para estudar poesia, não é necessário ser um poeta; e podemos estudar música sem tocar um instrumento. Contudo, para estudar filosofia é necessário que nos entreguemos à argumentação filosófica (argumentar é apresentar razões ou indícios que conduzem a uma conclusão). Não se trata de operar ao nível dos grandes filósofos do passado; mas quando se estuda filosofia faz-se o mesmo tipo de coisa que eles fizeram. Podemos jogar futebol sem chegar ao nível do Pelé, e podemos obter muita satisfação intelectual filosofando sem a originalidade ou o brilhantismo de Wittgenstein. Mas em ambos os casos será necessário desenvolver algumas das competências usadas pelos grandes praticantes. Essa é uma das razões pelas quais a filosofia pode ser uma área de estudos imensamente compensadora.
A palavra "filosofia" deriva do grego "amor da sabedoria". Mas isto não é particularmente útil para a compreensão do modo como a palavra é agora usada. A filosofia é um disciplina nuclear relativamente à maior parte dos cursos de humanidades. Centra-se em questões abstractas como "Será que Deus existe?", "Será o mundo realmente como nos parece que é?", "Como devemos viver?", "O que é a arte?", "Teremos uma liberdade de escolha genuína?", "O que é a mente?", e assim por diante.
Estas questões muito abstractas podem surgir na nossa experiência quotidiana. Algumas pessoas fazem uma caricatura da filosofia como se fosse uma disciplina sem relevância para a vida, uma disciplina para estudar em casa unicamente por satisfação intelectual, o equivalente académico de fazer palavras cruzadas. Mas isto é uma representação gravemente errada de grande parte da disciplina. Por exemplo, o caloroso debate sobre se o boxe deve ser proibido só pode responder-se enfrentando questões abstractas importantes. Quais são os limites aceitáveis da liberdade individual num país civilizado? Quais são as justificações para o paternalismo, para forçar as pessoas a comportar-se de uma certa forma para o seu próprio bem? Por outras palavras, este debate não é apenas sobre reacções emocionais ao boxe; depende antes de pressupostos filosóficos fundamentais (um pressuposto é uma afirmação a favor da qual não se avança qualquer argumento; uma afirmação que se aceita para permitir a argumentação).
A análise de razões e argumentos é uma área própria da filosofia. De facto, se a filosofia tem um método distintivo, é este: a construção, crítica e análise de argumentos. As competências filosóficas são aplicáveis em qualquer área em que os argumentos sejam importantes, e não apenas nos domínios da especulação abstracta. São particularmente úteis quando se escreve ensaios, dado que se espera habitualmente que se defenda conclusões, e não apenas que as afirmemos. Por esta razão, uma formação básica em filosofia é extremamente importante, seja qual for a disciplina académica que se tenha em mente seguir.
Nigel Warburton
O que é a filosofia? Esta é uma questão notoriamente difícil. Uma das formas mais fáceis de responder é dizer que a filosofia é aquilo que os filósofos fazem, indicando de seguida os textos de Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant, Russell, Wittgenstein, Sartre e de outros filósofos famosos. Contudo, é improvável que esta resposta possa ser realmente útil se o leitor está a começar agora o seu estudo da filosofia, uma vez que, nesse caso, não terá provavelmente lido nada desses autores. Mas mesmo que já tenha lido alguma coisa, pode mesmo assim ser difícil dizer o que têm em comum, se é que existe realmente uma característica relevante partilhada por todos. Outra forma de abordar a questão é indicar que a palavra «filosofia» deriva da palavra grega que significa «amor da sabedoria». Contudo, isto é muito vago e ainda nos ajuda menos do que dizer apenas que a filosofia é aquilo que os filósofos fazem. Precisamos por isso de alguns comentários gerais sobre o que é a filosofia.
A filosofia é uma actividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A actividade dos filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os filósofos também analisam e clarificam conceitos. A palavra «filosofia» é muitas vezes usada num sentido muito mais lato do que este, para referir uma perspectiva geral da vida ou para referir algumas formas de misticismo. Não irei usar a palavra neste sentido lato: o meu objectivo é lançar alguma luz sobre algumas das áreas centrais de discussão da tradição que começou com os gregos antigos e que tem prosperado no século XX, sobretudo na Europa e na América.
Que tipo de coisas discutem os filósofos desta tradição? Muitas vezes, examinam crenças que quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do tempo. Ocupam-se de questões relacionadas com o que podemos chamar vagamente «o sentido da vida»: questões acerca da religião, do bem e do mal, da política, da natureza do mundo exterior, da mente, da ciência, da arte e de muitos outros assuntos. Por exemplo, muitas pessoas vivem as suas vidas sem questionarem as suas crenças fundamentais, tais como a crença de que não se deve matar. Mas por que razão não se deve matar? Que justificação existe para dizer que não se deve matar? Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal, que quer dizer a palavra «dever»? Estas são questões filosóficas. Ao examinarmos as nossas crenças, muitas delas revelam fundamentos firmes; mas algumas não. O estudo da filosofia não só nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos preconceitos, como ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos. Ao longo desse processo desenvolve-se uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto leque de temas -- uma capacidade muito útil que pode ser aplicada em muitas áreas.
A filosofia e a sua história
Desde o tempo de Sócrates que surgiram muitos filósofos importantes. Já referi alguns no primeiro parágrafo. Um livro de introdução à filosofia poderia abordar o tema historicamente, analisando as contribuições desses grandes filósofos por ordem cronológica. Mas não é isso que farei neste livro. Ao invés, abordarei o tema por tópicos: uma abordagem centrada em torno de questões filosóficas particulares e não na história. A história da filosofia é, em si mesma, um assunto fascinante e importante; muitos dos textos filosóficos clássicos são também grandes obras de literatura: os diálogos socráticos de Platão, as Meditações, de Descartes, a Investigação sobre o Entendimento Humano, de David Hume e Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche, para citar só alguns exemplos, são todas magníficos exemplos de boa prosa, sejam quais forem os padrões que usemos. Apesar de o estudo da história da filosofia ser muito importante, o meu objectivo neste livro é oferecer ao leitor instrumentos para pensar por si próprio sobre temas filosóficos, em vez de ser apenas capaz de explicar o que algumas grandes figuras do passado pensaram acerca desses temas. Esses temas não interessam apenas aos filósofos: emergem naturalmente das circunstâncias humanas; muitas pessoas que nunca abriram um livro de filosofia pensam espontaneamente nesses temas.
Qualquer estudo sério da filosofia terá de envolver uma mistura de estudos históricos e temáticos, uma vez que se não conhecermos os argumentos e os erros dos filósofos anteriores não podemos ter a esperança de contribuir substancialmente para o avanço da filosofia. Sem algum conhecimento da história, os filósofos nunca progrediriam: continuariam a fazer os mesmos erros, sem saber que já tinham sido feitos. E muitos filósofos desenvolvem as suas próprias teorias ao verem o que está errado no trabalho dos filósofos anteriores. Contudo, num pequeno livro como este, é impossível fazer justiça às complexidades da obra de filósofos individuais. As leituras complementares, sugeridas no fim de cada capítulo, ajudam a colocar num contexto histórico mais vasto os assuntos aqui discutidos.
Porquê estudar filosofia?
Defende-se por vezes que não vale a pena estudar filosofia uma vez que tudo o que os filósofos fazem é discutir sofisticamente o significado das palavras; nunca parecem atingir quaisquer conclusões de qualquer importância e a sua contribuição para a sociedade é virtualmente nula. Continuam a discutir acerca dos mesmos problemas que cativaram a atenção dos gregos. Parece que a filosofia não muda nada; a filosofia deixa tudo tal e qual.
Qual é afinal a importância de estudar filosofia? Começar a questionar as bases fundamentais da nossa vida pode até ser perigoso: podemos acabar por nos sentir incapazes de fazer o que quer que seja, paralisados por fazer demasiadas perguntas. Na verdade, a caricatura do filósofo é geralmente a de alguém que é brilhante a lidar com pensamentos altamente abstractos no conforto de um sofá, numa sala de Oxford ou Cambridge, mas incapaz de lidar com as coisas práticas da vida: alguém que consegue explicar as mais complicadas passagens da filosofia de Hegel, mas que não consegue cozer um ovo.
A vida examinada
Uma razão importante para estudar filosofia é o facto de esta lidar com questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência. A maior parte das pessoas, num ou noutro momento da sua vida, já se interrogou a respeito de questões filosóficas. Por que razão estamos aqui? Há alguma demonstração da existência de Deus? As nossas vidas têm algum propósito? O que faz com que algumas acções sejam moralmente boas ou más? Poderemos alguma vez ter justificação para violar a lei? Poderá a nossa vida ser apenas um sonho? É a mente diferente do corpo, ou seremos apenas seres físicos? Como progride a ciência? O que é a arte? E assim por diante.
A maior parte das pessoas que estuda filosofia acha importante que cada um de nós examine estas questões. Algumas até defendem que não vale a pena viver a vida sem a examinar. Persistir numa exis­tência rotineira sem jamais examinar os princípios na qual esta se baseia pode ser como conduzir um automóvel que nunca foi à revisão. Podemos jus­tificadamente confiar nos travões, na direcção e no motor, uma vez que sempre funcionaram suficien­temente bem até agora; mas esta confiança pode ser completamente injustificada: os travões podem ter uma deficiência e falharem precisamente quando mais precisarmos deles. Analogamente, os princípios nos quais a nossa vida se baseia podem ser inteiramente sólidos; mas, até os termos examinado, não podemos ter a certeza disso.
Contudo, mesmo que não duvidemos seriamente da solidez dos princípios em que baseamos a nossa vida, podemos estar a empobrecê‑la ao recusarmo‑nos a usar a nossa capacidade de pensar. Muitas pessoas acham que dá demasiado trabalho ou que é excessivamente inquietante colocar este tipo de questões fundamentais: podem sentir‑se satisfeitas e confortáveis com os seus preconceitos. Mas há outras pessoas que têm um forte desejo de encontrar respostas a questões filosóficas que representem um desafio.
Aprender a pensar
Outra razão para estudar filosofia é o facto de isso nos proporcionar uma boa maneira de aprender a pensar mais claramente sobre um vasto leque de assuntos. Os métodos do pensamento filosófico podem ser úteis em variadíssimas situações, uma vez que, ao analisar os ar­gumentos a favor e contra qualquer posição, adquirimos aptidões que podem ser aplicadas noutras áreas da vida. Muitas pessoas que estudam filosofia aplicam depois as suas aptidões em profissões tão diferentes quanto o di­reito, a informática, a consultoria de gestão, o funciona­lismo público e o jornalismo ‑ áreas onde a clareza de pensamento é um grande trunfo. Os filósofos usam tam­bém a perspicácia que adquirem acerca da natureza da existência humana quando se voltam para as artes: alguns filósofos foram também romancistas, críticos, poe­tas, realizadores de cinema e dramaturgos de sucesso.
[...]
A filosofia é difícil?
A filosofia é muitas vezes descrita como uma disci­plina difícil. Há vários tipos de dificuldades associadas à filosofia, algumas delas evitáveis.
Em primeiro lugar, é verdade que muitos dos pro­blemas com os quais os filósofos profissionais lidam exigem efectivamente um nível bastante elevado de pensamento abstracto. Contudo, o mesmo se aplica a praticamente todas as actividades intelectuais: a esse respeito, a filosofia não é diferente da física, da teoria literária, da informática, da geologia, da matemática ou da história. Tal como acontece com estas e outras áreas de estudo, a dificuldade em dar um contributo substancialmente original na área respectiva não deve ser usada como desculpa para negar às pessoas comuns o conhecimento dos avanços dessas áreas, nem para as impedir de aprender os seus métodos básicos.
Contudo, há um segundo tipo de dificuldade associada à filosofia que pode ser evitada. Os filósofos nem sempre são bons prosadores. Muitos têm fracas capacidades para comunicar claramente as suas próprias ideias. Por vezes, isto acontece porque só estão interessados em atingir uma pequeníssima audiência de leitores especializados; outras vezes, porque usam uma gíria desnecessariamente complicada que se limita a confundir os que com ela não estão familiarizados. Os termos especializados podem ser úteis para evitar explicar certos conceitos sempre que são usados. Contudo, há entre os filósofos profissionais uma tendência infeliz para usar termos especializados como um fim em si; muitos usam expressões latinas apesar de existirem equivalentes portugueses perfeitamente aceitáveis. Um parágrafo cheio de palavras desconhecidas e de palavras conhecidas usadas de forma desconhecida pode intimidar. Alguns filósofos parecem falar e escrever numa linguagem inventada por eles. Isto pode fazer que a filosofia pareça muito mais difícil do que na verdade é. [...]
Os limites do que a filosofia pode fazer
Alguns estudantes têm expectativas excessivamente altas em relação à filosofia. Esperam que a filosofia lhes forneça uma imagem acabada e detalhada dos dilemas humanos. Pensam que a filosofia lhes irá revelar o sen­tido da vida e explicar todas as facetas das nossas com­plexas existências. Ora, apesar de o estudo da filosofia poder iluminar algumas questões fundamentais rela­cionadas com a nossa existência, não oferece nada que se pareça com uma imagem acabada, se é que de facto pode existir tal coisa. Estudar filosofia não é uma alter­nativa ao estudo da arte, da história, da psicologia, da antropologia, da sociologia, da política e da ciência. Estas diferentes disciplinas concentram‑se em diferen­tes aspectos da vida humana e oferecem diferentes tipos de esclarecimentos. Alguns aspectos da vida das pessoas resistem à análise filosófica e até talvez a qual­quer outro tipo de análise. É por isso importante não esperar demasiado da filosofia.
As nossas capacidades analíticas estão muitas vezes já altamente desenvolvidas antes de termos aprendido muita coisa acerca do mundo, e por volta dos catorze anos muitas pessoas começam a pensar por si próprias em problemas filosóficos — sobre o que realmente existe, se nós podemos saber alguma coisa, se alguma coisa é realmente correcta ou errada, se a vida faz sentido, se a morte é o fim. Escreve-se acerca destes problemas desde há milhares de anos, mas a matéria-prima filosófica vem directamente do mundo e da nossa relação com ele, e não de escritos do passado. É por isso que continuam a surgir uma e outra vez na cabeça de pessoas que não leram nada acerca deles.
[...] Não discutirei os grandes escritos filosóficos do passado nem o contexto cultural desses escritos. O núcleo da filosofia reside em certas questões que o espírito reflexivo humano acha naturalmente enigmáticas, e a melhor maneira de começar o estudo da filosofia é pensar directamente sobre elas. Uma vez feito isso, encontramo-nos numa posição melhor para apreciar o trabalho de outras pessoas que tentaram solucionar os mesmos problemas.
A filosofia é diferente da ciência e da matemática. Ao contrário da ciência, não assenta em experimentações nem na observação, mas apenas no pensamento. E ao contrário da matemática não tem métodos formais de prova. A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias e pensando em argumentos possíveis contra elas, e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.
A preocupação fundamental da filosofia é questionar e compreender ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensar nelas. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: «O que é o tempo?» Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: «o que é um número?» Um físico perguntará o que constitui os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: «Que faz uma palavra significar qualquer coisa?» Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar está errado, mas um filósofo perguntará: «O que torna uma acção boa ou má?»
Não poderíamos viver sem tomar como garantidas as ideias de tempo, número, conhecimento, linguagem, bem e mal, a maior parte do tempo; mas em filosofia investigamos essas mesmas coisas. O objectivo é levar o conhecimento do mundo e de nós um pouco mais longe. É óbvio que não é fácil. Quanto mais básicas são as ideias que tentamos investigar, menos instrumentos temos para nos ajudar. Não há muitas coisas que possamos assumir como verdadeiras ou tomar como garantidas. Por isso, a filosofia é uma actividade de certa forma vertiginosa, e poucos dos seus resultados ficam por desafiar por muito tempo.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Aniversário da elevação de Oiã a Vila


(Intervenção a proferir na sessão das comemorações do aniversário da elevação a Vila que têm lugar em Oiã, dia 30 de Junho, a partir das 09H30)

O primeiro documento que refere o nome de Oiã (Oyana) são as Inquirições de D. Afonso II, em 1220. Daí para cá a história é narrada num livro de Armor Pires Mota. Em 1989, por despacho governamental, datado de 30 de Junho, Oiã ascende a Vila. É essa data que hoje comemoramos.

É uma preocupação natural procurar saber o que se entende por Vila. “É um aglomerado populacional de tamanho intermédio entre aldeia ou povoação e a cidade, dotado de uma economia em que o sector terciário (comércio e serviços) tem uma importância no mínimo razoável”.

Habitualmente, em Portugal, as vilas têm entre 1000 e 10000 habitantes, mas motivos históricos e flutuações populacionais criaram várias excepções à regra. Actualmente a criação de novas vilas (elevadas de níveis inferiores) encontra-se definida pela Lei 11/82, de 02 de Junho que, salvo quando há “importantes razões de natureza histórica, cultural e arquitectónica” estabelece que uma povoação só pode ser elevada a vila se tiver:
- Mais de 3000 eleitores, em aglomerado populacional contínuo e
- Pelo menos metade dos seguintes equipamentos efectivos:
o Posto de assistência médica
o Farmácia
o Casa do Povo, dos Pescadores, de espectáculos, centro cultural ou outras actividades
o Transportes públicos colectivos
o Estação de CTT
o Estabelecimentos comerciais e de Hotelaria
o Estabelecimento que ministre escolaridade obrigatória
o Agência Bancária

Ora nós temos quase, repito, quase ... tudo isto.
Não necessitamos de Casa dos Pescadores, (só se for dos pescadores à linha, mas as enguias ou outro peixe já escasseiam nos nossos ribeiros, em especial devido à poluição) mas não temos ainda uma boa sala de espectáculos, nem um centro cultural. E Transportes públicos colectivos, na Vila e na Freguesia. Enfim...
Mas somos, com todo o merecimento uma Vila. Faltar-nos-à certamente uma dinâmica social, cultural e política renovada. E não há um empenhamento das estruturas políticas, das escolas e das empresas que se traduza numa mais valia para o desenvolvimento sócio – educacional da Vila, quer quanto à estruturação de soluções de emprego quer quanto à continuidade dos estudos, pelo menos a nível da escolaridade obrigatória mas também de saídas profissionalizantes.
E numa altura em que se inicia a presidência da União Europeia por Portugal, e os conflitos regionais, em várias partes do mundo, nos preocupam e nos fazem reflectir, creio que as Associações, com ou sem o apelo e o apoio dos órgãos autárquicos, devem promover encontros, conferências, sessões públicas de troca de opiniões, de informação, para que não continuemos a passar ao lado da realidade do Pais, da Europa e do Mundo.

É nesta Vila e Freguesia que vivemos. É por esta Vila e Freguesia que todos temos de nos empenhar muito mais! E ainda que as pessoas sejam o esteio fundamental de qualquer organização social, a verdade é que as estruturas políticas e a Junta de Freguesia também ainda têm muito para fazer antes de se continuarem a desculpar com os magros orçamentos do estado ou com uma interpretação duvidosa da amplitude das suas obrigações e competências.
Viva a Vila de Oiã
Obrigado.

Acerca de mim

Joaquim Alberto Grangeia Seabra, Nascido na Pedreira, Oiã, a 08-02-1948, Chefe de Serviços de Administração Escolar do Agrupamento de Escolas de Oiã, Escola Básica dos 2º e 3º ciclos Dr. Fernando Peixinho, Oiã.
- 3º ano de Filosofia do Instituto de Estudos Superiores dos Dominicanos;
Curso de Lições de Psicopedagogia (do Centro Médico de Psicologia e Orientação Profissional), Curso breve de Técnicas de Jornalismo, Formação nas áreas de Qualidade nos Serviços Públicos e Gestão e Administração Escolar.
- Docência em Angola (1969-1986): Professor do 4º grupo; Professor de Psicologia e Psicopedagogia no INEF de Luanda e no IND, Instituto Nacional do Desporto; Coordenação e leccionação de centenas de Acções de Formação em Angola e S. Tomé, e também em Portugal; Director do Centro de Documentação e Informação - Secretaria de Estado de Educação Física e Desportos de Angola (1976-1981); Professor de Pedagogia no Centro de Ensino Superior de Enfermagem da OMS, Organização Mundial da Saúde, pólo de África (1982-1984); Regresso a Portugal em 1986; Sócio fundador e elemento da Direcção da Associação de Jornalistas e Escritores da Bairrada – AJEB, desde 1990; elemento da direcção da ACUREP, Associação Cultural e Recreativa da Pedreira, desde 1987; Membro dos corpos directivos da Comissão de Melhoramentos de Oiã; membro fundador, da direcção da LASSOB, Liga dos Amigos dos Serviços de Saúde de Oliveira do Bairro; Colaborador do Jornal da Bairrada. Membro da Assembleia de Freguesia de Oiã.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

O Início de uma conversa com a "Blogoesfera"

Aproveitando este novo meio de comunicação vou procurar emitir algumas opiniões neste espaço. Por isso o personalizei. Não me levem a mal!
Um abraço para todos!
Esperem por mim.